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Histórias inspiradoras de pessoas que investiram na criatividade e empreenderam seus talentos.

Wesley Retrato

Wesley Barbosa

escrevendo a própria história

 

Itapecerica da Serra é uma cidade da região metropolitana de São Paulo e como muitos municípios do entorno da capital, o crescimento urbano desordenado e a ocupação irregular do espaço acabaram acentuando a violência e as desigualdade sociais na região.  Wesley Barbosa é escritor e trabalha contando essa história.

 

Escritor, Wesley retrata a realidade das periferias – local onde viveu boa parte da sua vida – e tem se revelado como uma das vozes da sua geração. Mas nem sempre pôde ter voz e vez. Nascido em Itapecerica, quando criança, não se lembra de uma brincadeira preferida, além de ficar zanzando pelas ruas ou andando de skate. No entanto, há imagens marcantes em sua memória, como os inúmeros bares, igrejas, pessoas bêbadas pelas ruas, crianças empinando pipas nas lajes e até pessoas mortas.

Seus pais e outros familiares não tinham o hábito da leitura, tampouco conhecia lugares que estimulassem esse hábito. Na escola pública, Wesley não se considerava um aluno exemplar.

“Não conseguia prestar atenção nas aulas de Matemática, Química ou Física, mas gostava das de Português, História e Filosofia. Ainda assim, não me saía muito bem. Mas sozinho, com os livros, eu conseguia absorver muito mais conhecimento, e meu amor pelos livros se deu mais ou menos dessa forma”, explica Wesley.

Por isso, ainda garoto, gostava também de ficar horas na biblioteca pública do bairro onde morava. Lia, principalmente, filosofia, romances e poesias. Daí, surgiram alguns dos seus autores preferidos: Jorge Amado, Dostoievski, Lima Barreto. Era curioso, buscava novos autores e também compreender as palavras desconhecidas usando um dicionário. Teve época em que não tinha muitos amigos e preferia a solidão da biblioteca.

“Era meio difícil conversar sobre os livros e os autores que estavam fazendo a minha cabeça. A minha solidão tem muito a ver com isso: estar em meio a muitos personagens e escritores, e, de repente, olhar para o lado e não poder falar muito sobre isso. O processo criativo também se dá dessa maneira. Mas não é algo que me chateia. Eu gosto”, confessa Wesley.

Daí foi um passo para começar a escrever suas próprias histórias, com nove anos de idade. Aos 16, passou a escrever em grande quantidade. E aos 31, começou o processo de trazer a sua visão sobre a vida na periferia, que, no começo, eram anotados em pedaços de papel. Nessa jornada, concluiu o Ensino Médio, e trabalhou como servente de pedreiro, vendedor ambulante de CD e DVD, monitor de escola, em biblioteca e balconista de lanchonete em faculdade.

Até que em cinco de março de 2016 (data que faz questão de enfatizar), ele publicou seu primeiro livro de contos pela editora Selo Povo, do Capão Redondo. “O Diabo na Mesa dos Fundos” é uma coletânea de 19 histórias com recortes da vida urbana, que foi escrevendo ao longo de seis meses, na época em que trabalhava como vendedor ambulante.

 “Eu tinha uma ideia e logo escrevia em algum pedaço de guardanapo para depois digitar no computador de uma lan house”, relembra.  Hoje, a publicação está em sua sexta tiragem, ressaltando que todos foram vendidos de mão em mão ou pela internet.

“Mas, eu não pensava nisso como um trabalho. Eu só queria escrever e publicar. Mais tarde, eu entendi que podia ser meu trabalho. Larguei meu emprego em 2019 e comecei a trabalhar apenas escrevendo livros”, orgulha-se.

Na sequência, vieram “Parágrafos fúnebres” (2020), “Relato de um desgraçado sem endereço fixo” (2021) e “Viela ensanguentada” (2022), todos editados pela Ficções.

Hoje, Wesley vive das vendas dos seus livros e de palestras e conversas sobre literatura. Sua renda vem das publicações que são enviadas pelos Correios ou nas feiras das quais participa. Ou ainda, dos que vende pelas ruas perto de bares e do teatro. “Foi a melhor forma que encontrei para divulgar meu trabalho”, conta.

Mas sua jornada não para aí: ele carrega consigo a missão de incentivar as pessoas no hábito da leitura, oportunidade que não teve.

“Tenho ido às escolas para falar do meu livro mais recente, o Viela Ensanguentada. Tem sido uma boa experiência poder levar a literatura para jovens de periferia que se identificam com a história dele, vê-los fazendo parte disso e gostando. Em 2022, fui convidado para ir a algumas escolas e pretendo continuar esse trabalho”, conta.

Além disso, tem expandido seus horizontes buscando outras oportunidades para viabilizar seus projetos, como a participação em editais, e fortalecer ainda mais o seu trabalho.

Wesley e o livro Viela Ensanguentada
Wesley trabalha escrevendo livros

Os livros e a escrita de Wesley

“Para mim, os livros são uma fonte inesgotável de energia poética, energia intelectual, energia amorosa, energia espiritual. Sem eles, a sociedade não teria inventado a roda e nós jamais teríamos ido à lua. Os livros são a construção de tudo aquilo que nos faz enxergar o mundo como algo possível, mesmo com o fantasma da miséria rondando as ruas da periferia. Por meio desse monte de páginas, conseguimos chegar a lugares muito distantes que a nossa imaginação permitiu. Também são a possibilidade de conversar com homens profundos de outras épocas, como romancistas feito Dostoievski ou Balzac. Filósofos e poetas que nunca tinham uma pergunta medíocre sobre a vida, mas sempre buscavam saber mais por meio da curiosidade que as obras literárias poderiam despertar”, reflete.

Em um dos seus livros, o autobiográfico “Relato de um desgraçado sem endereço fixo”, Wesley escreve sobre a história de Vinícius, um rapaz periférico que, em meio às adversidades, tenta vencer no mercado dos livros. Mesmo desempregado e pressionado pela família, o jovem não desiste de seu sonho de ser escritor e segue lendo e frequentando bibliotecas. No entanto, a mãe do rapaz não concorda com essa situação e o expulsa de casa. Começa, então, a viver a realidade das ruas.

Ao contrário de Vinícius e de outros de seus personagens, Wesley não sonha com o futuro… ele prefere mesmo deixar para as palavras escritas. “Estou vivendo meus sonhos agora. Não penso daqui a dez anos.”.

Momento presente. Um sonho que alimenta leitores com seus contos e histórias, intensas e envolventes e, quem sabe, que sirva também de inspiração para os sonhos de muitos jovens.

 

*Para compra de livros, envie uma mensagem para: wesleyliteraturamarginal@gmail.com

 

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